segunda-feira, 19 de abril de 2010

Resenha Musical

Por Gabriel Rosa

Em minha primeira postagem no blog do CONTRAPONTO optei por colocar uma banda instrumental daqui do nosso solo tupiniquim, com um som bastante psicodélico, digamos assim, denso porem despojado. Deleite-se com o som desse projeto musical chamado FREAKEYS!!!.

O nome “Freakeys” advém da aglutinação dos termos “freak” (excêntrico, estranho) e “keys” (teclas”). É bom lembrar que esse trabalho seria originalmente um disco solo de Fábio, que entretanto ganhou uma cara de disco de banda após a crescente participação dos músicos convidados a se juntar.

A semelhança estilística entre o Liquid Tension Experiment e o Freakeys é algo que salta aos olhos numa primeira análise, e a banda certamente não negará a influência, mas que isso não seja lido de forma alguma como uma acusação de puro plágio. A fórmula básica é a mesma que havia no LTE, onde 3 membros eram do Dream Theater (Mike Portnoy, John Petrucci e Jordan Rudess – tendo este último se juntado na realidade após os trabalhos com o LTE), mais um “de fora”, o baixista virtuose Tony Levin (King Crimson, Peter Gabriel). No Freakeys, como mencionado, são 3 integrantes do Angra (Andreoli, Priester e Laguna), mais o guitarrista Eduardo Martinez, que pertence à banda Hangar, da qual também participam Priester e Laguna. Se a estrutura musical básica e uma análise empírica possam sugerir tal similaridade, uma audição mais cuidadosa nos mostra diferenças grandes. A adição eventual de sutis elementos de música brasileira é obviamente também um diferencial. Assim como uma auto-indulgência mais sob controle, algo altamente saudável por sinal.

A “cozinha” do Angra está mais brilhante do que nunca neste trabalho, e é difícil de imaginar que eles consigam reproduzir ao vivo tamanha destreza técnica e descomunal esforço físico. Aquiles Priester mostra ao mesmo tempo uma garra impressionante e um peso inigualável, num trabalho vibrante que mantém o seu característico estilo nos 2 bumbos, adicionando porém uma variadíssima técnica nos ton-tons (repare na música de abertura, “One Cup One Lighter One Jack”) e se dando ao luxo de pequenas sutilezas que podem passar despercebidas a um ouvinte mais desatento (o que pode ser notado nas músicas “Golden Bullet” e “Gallamawhat?!”, por exemplo, em meio ao intenso turbilhão sonoro). Felipe Andreoli se alterna entre bases sólidas que preenchem totalmente o espaço que lhe é destinado, se permitindo porém em determinados momentos adicionar pequenas firulas muito bem inseridas nos arranjos. Isso sem falar nos seus pequenos solos, de extremo bom gosto, em músicas como a de abertura, mais “Zoo Zoe” e “Requiem Aeternam”. Em mais uma referência ao LTE, o seu baixo nos remete a Tony Levin na faixa “Beetle Dance”, pesado e climático.

Já Fábio Laguna nos brinda com uma gama de timbres e sonoridades distintas, todas sem exceção bem selecionadas, e muito bem colocadas nas músicas. Emula em seus teclados digitais sons de órgão, clavicórdio, piano, sintetizadores analógicos, e até mesmo um piano “honky tonk” – no melhor estilo Keith Emerson, do ELP – e ainda um acordeom (na ótima “Zoo Zoe”, uma das melhores do disco, onde levam um baião em determinado momento). Ou ainda um cravo, na também excelente faixa-título. Laguna inseriu ainda entre as músicas pequenos interlúdios que fazem a ponte entre os diferentes temas, de forma a criar uma fluência bastante natural entre as diferentes composições. Seus solos são sempre muito bem colocados, usando de velocidade e técnica apenas quando pertinente, mas sabendo criar também climas melódicos (repare por exemplo em “Beetle Dance”), o que adiciona uma totalmente necessária dinâmica ao disco, extremamente essencial para esse tipo de som intenso, caracterizado por uma incrível e interminável profusão de notas e acordes.

O guitarrista Eduardo Martinez mostra um estilo pesado e sujo, mas ao mesmo tempo com notas definidas e claras. Sua característica própria se diferencia dos guitarristas do Angra, o que é ótimo pois dá uma identidade única ao Freakeys. Em algumas faixas, os arranjos deram um merecido destaque ao seu trabalho, como em “The Dream Seller”.

O mais difícil é se selecionar músicas favoritas, pois trata-se de um disco muito coeso, daqueles em que cada um tem as suas próprias escolhas. Nas minhas primeiras audições, eu poderia citar como destaques as 2 primeiras músicas (arrebatadoras logo de cara), mais “Gallamawhat?!”, “Zoo Zoe”, “Freakeys”, e ainda a mais calma do CD, “Requiem Aeternam”, que ajuda na mencionada dinâmica, ao dar um certo tempo para o ouvinte respirar. Por sinal, se outra música com um andamento um pouco mais lento e melodias mais marcantes houvesse sido incluída como terceira ou quarta faixa, o disco ganharia nesse quesito (e talvez somente por isso minha nota seja 9 e não 10!).

Tracklist:
1. One Cup One Lighter One Jack
2. Beetle Dance
3. The Dream Seller
4. Golden Bullet
5. Gallamawhat?!
6. Zoo Zoe
7. Freakeys
8. On More Coffee
9. Requiem Aeternam
10. Rucula’n’Rum

Espero que tenham gostado.


Gabriel Rosa
Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da UNIFAP
Militante do Campo Contraponto

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