Por Carliendell Magalhães
Ao longo da história, a humanidade buscou soluções para evitar um colapso global, conseqüente do individualismo humano que acaba por comprometer a vida em sociedade. Assegurou-se a continuidade social transmitindo-se as tarefas de geração em geração sob a forma de tradição, utilizou-se o autoritarismo e por fim, criou-se algo chamado “sistema de mercado” que possuia uma única regra: cada um pode fazer o que lhe for mais vantajoso monetariamente. De tal forma, cada um cumpre com a sua tarefa social, impulsionado não pela tradição ou pelo autoritarismo, mas sim pelo lucro. O que temos hoje é uma criatura incontrolável – o capitalismo – que oferece apenas duas alternativas: deixamos com que ele acabe com o mundo ou acabamos com ele. Deriva desse sistema a tão famosa crise ambiental configurada atualmente.
Esta, por sua vez, tem sido veiculada por eles (donos dos meios de produção) como uma crise planetária e de responsabilidade igualmente classificada. Nos levando a crer que esse colapso é culpa do individuo que atira a casca do chiclete pela janela do ônibus, da família que precisa habitar a ressaca, do pequeno agricultor que desmata 100 metros quadrados para plantar mandioca. TOLAS MENTIRAS! Temos sim, uma crise planetária que nos foi imposta pelas grandes economias mundiais desprovidas de argumentos e que por isso tentam partilhar conosco a culpa. É verdade que temos nossa parcela de culpa, no entanto os números me gritam aos ouvidos: somente EUA e China são responsáveis pela metade da emissão mundial de gases poluentes. Por isso cabe a pergunta: ora camaradas, a crise é do Congo, de Cuba, do Butão, do Hawai, do Haiti, de dezenas de outra economias? Eu respondo: NÃO!
Transformar-mos em neomalthusianos é uma saída estratégica. Querem nos fazer esquecer que esse sistema caminha no sentido contrario à sustentabilidade. Não querem que vejamos também que o fim da crise só pode ser expresso com a quebra do modelo estabelecido a partir da revolução industrial, querem que andemos de bicicleta. Reciclemos as embalagens que eles mesmos produzem, que paremos de ter filhos. Aí vai minha resposta a eles: atos isolados não transformam o mundo. O “faça sua parte” nada mais é do que uma transferência de responsabilidade, e por vezes soa idiota, “ ao invés de serem apenas bons esforcem-se para criar um estado de coisas que torne o mundo bom” como bem evidenciou Bertold Brecht. Por quê não colocam em suas manchetes que o problema ambiental é fruto de um sentimento tolo de superioridade que o homem ostenta em relação à natureza? Aproveitem e coloquem também (no G1, no New York Times) que esse sentimento tolo é fruto da educação dada pelo capitalismo, que essa imbecilidade também nos é imposta.
“Considerando que os senhores nos ameaçam com fuzis e canhões
Nós decidimos tomar o poder
para podermos levar uma vida melhor
Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender
Devemos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!”
Bertold Brecht
Carliendell Magalhães
Acadêmico de Geografia da UNIFAP
Militante do Campo Contraponto
Nenhum comentário:
Postar um comentário