terça-feira, 8 de junho de 2010

O moderno pós-machismo


Karina Moura
Desde os anos de 1800 – quando as mulheres já questionavam as relações sociais hierárquicas entre os homens e elas – a luta pela busca da igualdade entre os gêneros tem sido tarefa nada fácil. Questionar e redesenhar essas relações sociais, construídas historicamente, nos exige uma reflexão constante.
Quarenta anos após feministas queimarem sutiãs em praça pública, é preciso fazer um balanço do nosso movimento. Com muita luta, manifestação, atos públicos e protestos, conquistamos o direito ao voto, a participação na política, a inserção no mercado de trabalho, a licença maternidade, a Lei Maria da Penha, entre tantas outras vitórias.
Contudo, uma análise se faz necessária. Junto às teorias do fim da história, predominam as idéias de que as desigualdades foram superadas e que as mulheres já estão com as garantias de sua inserção. Essa compreensão equivocada, sustentada a partir de todo um símbolo que está por trás da idéia de “mulheres modernas”, nos revela a nova face da antiga opressão.
Hoje, nós, as “mulheres modernas” somos também as mulheres modernamente super exploradas, seja porque recebemos salários inferiores e desenvolvemos a dupla jornada de trabalho ou porque ainda somos as maiores vítimas do assédio moral e sexual.
Além disso, somos também modernamente oprimidas e violentadas. A mercantilização do corpo feminino, sobretudo pela mídia, e a insana busca pela imagem propagada como bela fazem com que as mulheres modernas, cada vez mais, se submetam a verdadeiras sessões de torturas. Esses sacrifícios diários são reflexos das novas formas da ditadura machista. Os golpes são sutis. O espancamento, silencioso. E embora sejam violentadas diariamente, elas não denunciam porque, de fato, não se dão conta que são vítimas de uma violência.
A nova fase do sistema capitalista trata de se apropriar de nossas vitórias, conquistadas a duras penas, a fim de revertê-las em novas formas de geração de lucro. E, ao mesmo tempo, trás em seu bojo o moderno pós-machismo, que redefine de forma muito sofisticada a ideologia opressora, e nos aprisiona à falsa liberdade.
Portanto, em meio à crise do capital, torna-se imprescindível realizarmos esse debate para que as nossas linhas de ação não reduzam a luta contra a opressão da mulher a uma luta por mudanças nos limites da sociedade capitalista, visto que tais reformas não garantem a emancipação, de fato, das mulheres.

Karina Moura é jornalista, coordenadora do Centro de Comunicação e Cultura Popular Olho da Rua.

Fonte: Fundação Lauro Campos.

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